Memórias sinistras: Praga pega

Eu teria somente histórias boas pra lembrar se somente pessoas boas tivessem passado pela minha vida. Eu já me vi passando por situações de humilhação e constragimento sem que eu tenha procurado por isso. Quando isso se repete por muito tempo nasce um sentimento de revolta, e a pessoa ingênua que eu fui, deixa de existir. Ao me ver eu não me reconheço, sinto até falta de quem eu já fui no passado. Essa raiva fica guardada em mim pra quando precisar eu usá-la como defesa.

Vou falar de um tipo de pessoas ignóbeis que passaram por mim nessa cidade, são umas pessoas que não me conhecem, não sabem quase nada da minha vida e passam por mim falando piadas ou me criticando pelas costas.

No ano de 2015, eu passava na rua e escutava a voz de um garoto me chamando de ceguinho isso aconteceu várias vezes, eu estava passando no centro e escutei ele gritar de longe: Uma esmola pro ceguinho! Eu olhei na direção dele e vi algumas pessoas que estavam nas bancas da feira se virarem pra olhar pra mim, eu fiquei muito constrangido e continuei meu caminho, em outra vez eu consegui ver o garoto quando ele me chamou de ceguinho novamente na rua perto da minha casa, eu relevei e pensei que ele é um moleque ridículo, mas como eu estou cansado de passar por isso e eu não sou santo, logo me veio um sentimento de raiva e desejei que ele pegue a mesma doença que eu tenho nos olhos que é o ceratocone, por causa dessa doença que eu uso óculos de sol porque tenho sensibilidade a luz forte.

Mas esse não foi o único, uma vez eu estava passando na rua e escutei uma mulher falar em voz alta pelas minhas costas: esse rapaz é cego. Eu não olhei pra trás continuei andando e também desejei com raiva que ela pegue a mesma doença que eu tenho.

E ainda teve outra, mais uma vez eu passava na rua e observei vindo na minha frente um grupo de garotas adolescentes elas me olharam e eu senti um clima estranho como se elas fossem fazer algo comigo, no momento que elas passaram por mim uma delas falou: esse menino aí é cego! Mas outra garota respondeu: ele não é cego. Primeiro me veio uma raiva da primeira garota que falou pela minhas costas mas quando a outra garota falou corrigindo a amiga eu me acalmei. Mas mesmo assim eu desejei que ela também pegue a mesma doença que eu tenho nos olhos.

Me julguem kkkkk

Me lembro ainda de está no posto de saúde esperando pra ser atendido e uma menina por volta de 10 anos sentou na calçada atrás de mim e perguntou ao meu pai se eu era cego eu fiquei calado e com vergonha e meu pai explicou pra ela muito carinhosamente que eu usava óculos pra proteger os olhos do sol, eu não fiquei com raiva dela mas fiquei revoltado por ter essa doença nos olhos

E ainda teve uma velhinha que morava em frente a minha casa que quando eu estava chegando me falou assim: ei menino, tu é cego? Tu é sim que eu sei.

Eu só respondi que não e entrei em casa.

O que me dar raiva é que muitas pessoas usam óculos de sol mas quando sou eu que uso pensam que sou cego.

Mas o que acontece mesmo é uma rede de fofoca entre essas pessoas que moram aqui.

Eu estava refletindo sobre essa série de situações que aconteceram comigo e me lembrei de um fato importante. Quando eu era criança e morava em Fortaleza, eu vi várias vezes passar numa rua perto da minha casa uma mulher jovem, talvez com 20 anos, ela era muito magra e ela usava um aparelho nas costas que ao meu ver era pra manter a coluna dela reta, talvez por causa de algum problema de saúde. Eu vi que algumas crianças debochavam dela na rua chamando ela de girafa, eu achei engraçado como ela ficava com raiva e pegava pedra no chão pra jogar nos meninos (não lembro com certeza) por achar divertido, em outra ocasião eu chamei ela de girafa enquanto voltava da escola, ela falou com calma alguma coisa comigo talvez que ia falar pra minha mãe, depois em outra vez eu debochei dela de novo e ela tentou me pegar, alem de girafa eu acho que chamava ela de costa de ferro. Eu tenho uma vaga lembrança de ela ter pedido uma amiga dela pra me pegar na rua e ter me segurado, nesse momento ela me falou com muita raiva me desejando coisas ruins, não lembro com certeza o que ela me falou, mas não foi coisa boa, acho que ela me rogou uma praga, quase da mesma forma que eu fiz com as pessoas que debocharam de mim. Também me lembro que depois encontrei ela na igreja que eu frequentava com a minha mãe, quando terminava as pessoas ficavam conversando dentro e em frente a igreja, eu era uma criança traquina e não tinha entendimento do que era humilhar e debochar de uma pessoa até eu mesmo passar por isso, pra mim era engraçado deixar aquela mulher com raiva inclusive eu fiz isso lá na igreja, lembro da cara de raiva que ela ficava olhando, sem querer se exautar na frente dos outros, e tenho uma vaga lembrança de ter feito ela chorar lá na igreja o pior que fiz isso na frente das amigas que ampararam ela. São vagas lembranças e não tenho certeza que aconteceram exatamente assim. Será que o que estou passando é resultado da praga que ela rogou pra mim? Porque da pra ver que faz sentido.

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