O que eu passo na cidade que eu moro

Faz mais de 15 anos que eu moro nessa cidade do interior do Ceará, demorou por volta de 3 anos pra eu me acostumar a viver aqui. O jeito das pessoas é diferente do jeito das pessoas da capital onde eu nasci e era acostumado. Por muito tempo eu quis ser como os jovens daqui do interior, eles se reúnem nas praças pra conversar, se vestem bem, e mostram ser prestativos e educados. Depois dos meus 18 anos quando eu andava na rua, algumas pessoas que eu nem conheço passam por mim e me comprimentam dizendo: oi, opa, bom dia. NO começo eu não respondia pois eu era mais tímido e não conheço essas pessoas mas depois de um tempo eu entendi que aqui quando uma pessoa te comprimenta é porque ela simpatiza com sua figura, depois que eu entendi isso eu passei a comprimentar elas de volta, eu sempre fui tímido e também por isso eu não respondia.

Algo que também acontece muito comigo aqui e que me incomodava muito é que enquanto eu ando na rua as pessoas me olham fixo, me encaram, por muito tempo eu refleti sobre isso tentando descobrir se tinha algum defeito em mim que fazia as pessoas me olharem daquele jeito, eu penso que talvez seja porque eu sou muito branco e no sol eu fico pálido, uma vez quando eu cheguei em casa e esperava a minha mãe abrir o portão o meu avô me olhou fixo e disse que eu era tão branco que o sol dava reflexo em mim.

Outras particularidades que eu notei nas pessoas dessa cidade é que muitas delas gostam de se gabar pelo que elas têm e outras acham que conhece todos os habitantes da cidade pelo sobrenome da família.

Em Outubro de 2015 eu estava atravessando uma rua no centro pra ir marcar consulta numa clínica, eu vi uma senhora por volta de 50 anos e ela estava olhando pra mim, quando eu atravessei a rua ela me acompanhou e veio falar comigo dizendo que tinha me achado muito lindo e perguntou se eu era da familia dos Bastos, porque na familia dos Bastos as pessoas eram altas e brancas como eu (detalhe que eu só tenho 1,72m mas pra ela eu era alto porque ela é mais baixa) eu falei pra ela obrigado, pelo elogio e disse o sobrenome da minha família e ela disse que não conhecia nenhuma família com esse sobrenome. Aí ela começou a falar que ela tinha uma filha que tinha feito faculdade de filosofia e morava em um apartamento, eu nem respondi e só olhava pra ela e caminhava, ai parei pra atravessar outra rua e ela disse que eu tinha que casar com uma mulher muito rica e bonita que eu era muito bonito (já era quase 7 da noite e acho que ela não encherga muito bem de noite) aí ela foi por outro caminho.

Cheguei na clínica e fiquei esperando o médico só pra perguntar se ele retirava um sinal que eu tinha, ele saiu com a mulher dele e outros familiares pra recepção, a recepcionista falou pra esposa dele que eu estava esperando, aí ele olhou o sinal e disse que dava pra retirar com cirurgia, ele se afastou e eu perguntei o preço pra mulher dele, ela me falou o preço e me perguntou de quem eu era filho, o mesmo tipo de pergunta da outra mulher que encontrei no caminho, aí eu falei o nome do meu pai e ela não perguntou mas nada, eu agradeci e fui pra casa, quando cheguei em casa falei pros meus pais que duas pessoas me perguntaram de quem eu era filho, eles acharam curioso e minha mãe disse que as pessoas me olham e acham que sou filho de pais ricos, nós rimos pra disfarçar um leve constrangimento.

E não foi só essa vez, nesse ano de  2016 eu fui no banco com o meu pai e ele encontrou um conhecido lá, esse homem conhecido do meu pai veio me perguntar se eu tinha terminado os estudos e eu disse que tinha terminado o ensino médio, aí ele falou que o filho dele estava fazendo faculdade nem me lembro pra qual curso, ai eu já quis terminar logo a conversa e fiquei só concordando com a cabeça sem falar. O povo aqui gosta de se gabar e fazer comparação com os outros. Eu fiquei me sentindo diminuido, eu nunca tive muita vontade de fazer faculdade pois tem que estudar muito e eu não tenho paciência pra isso, pra mim já foi um sacrifício terminar o ensino médio.

Nesse ano também eu fui na prefeitura da cidade falar com um funcionário pra pedir que ele fosse medir a casa do meu pai pra poder fazer uma escritura particular, aí ele perguntou se eu era filho de um proprietário de uma vila de casas, eu disse que não, aí ele me perguntou como é o nome do meu pai, eu disse e ele ficou tentando lembrar de alguém com esse nome, aí esse mesmo funcionário me perguntou no que o meu pai trabalha e eu disse que ele é agricultor, aí ele desistiu de saber quem era meu pai e continuou com o assunto da escritura. Eu não tenho vergonha dos meus pais que são um agricultor e uma doméstica mas tem pessoas que me fazem passar constrangimento com essa expectativa de que eu seja de família rica.

Uma outra coisa que já aconteceu umas 3 vezes comigo e que eu achei muito bonito foi quando eu estava esperando pra atravessar uma rua movimentada e um carro parou pra eu atravessar, uma vez eu até agradeci fazendo sinal de positivo pro motorista, será que é uma regra de trânsito ou é gentileza mesmo? Na grande maioria as pessoas daqui são educadas, agradáveis, algumas tímidas e outras esnobes.

Por último quero falar de um tipo de pessoas irritantes que tem nessa cidade, são umas pessoas que não me conhecem, não sabem quase nada da minha vida e passam por mim falando piadas ou me criticando pelas costas.

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